Conheça Thiago Caldeira, scout brasileiro da MLB

By Matheus Ornellas - 15:05

De carreira universitária no Japão, Caldeira se tornou umas das referências para a seleção brasileira. Créditos: Divulgação

História


Thiago é natural da cidade de Bastos, que fica no estado de São Paulo. Segundo o olheiro, o beisebol é uma modalidade de tradição no município. Assim como muitos brasileiros que entram na modalidade, seu contato veio nos primeiros anos de vida.
"Eu tinha muitos amigos que já jogavam quando eu era criança. O patrão do meu pai recomendou que eu fizesse Judô ou Beisebol,esportes que me ajudariam na minha disciplina. Conheci o esporte quando fiz sete anos e foi uma paixão imediata nos primeiros treinos, nem tive vontade de tentar praticar o Judô, de tanto que gostei do beisebol"

Até os 13 anos de idade, o arremessador jogou pelo time de sua cidade. Depois disso, Thiago foi para o time de Guarulhos, já pensando na possibilidade da carreira profissional dentro do esporte.

"O time era um dos mais fortes do Brasil e contava com um treinador cubano que muitos atletas de fora procuravam. Na minha época não existia o CT Yakult, então os jovens tinham que buscar outras formas de se profissionalizar. Eu mesmo tive que morar sozinho muito novo buscando esse sonho"

A chegada dos anos 2000 trouxe a cidade de Ibiúna uma grande novidade: A academia e Centro de Treinamento Yakult, que foi criada com o intuito de desenvolver e evoluir os jovens talentos do beisebol brasileiro.

"Eu participei da primeira seletiva realizada no CT Yakult, onde consegui passar para a primeira turma de jogadores que ficariam alojados e recebendo treinamentos na academia. Fiquei lá por cerca de um ano e foi uma grande experiência"

Carreira escolar


Perto de completar quinze anos, Caldeira recebeu uma oportunidade única: Estudar e jogar beisebol no Japão. O arremessador foi observado por diversos scouts do país, que é uma das grandes potências da modalidade, além de ser a porta de entrada para muitos jogadores na época.

"Naquela época as nossas oportunidades eram para estudar e jogar. Hoje em dia existem caminhos mais abertos onde você pode assinar contratos profissionais com a MLB ou outras ligas muito mais cedo"

Durante seus três anos de ensino médio, o brasileiro jogou e estudou no estado de Yamagata, mais precisamente na cidade de Haguro. Durante seu tempo no Japão, ele conseguiu junto com sua equipe se qualificar para o Koshien.

"É um campeonato nacional colegial no Japão. É um sonho de todos os jogadores ter a chance de participar dele, pois somente os campeões de cada estado participa do nacional. Ao todo, mais de 4 mil escolas disputam uma vaga na competição. No meu último ano na escola, conseguimos nossa primeira vaga na história do torneio"

O torneio leva esse nome por ser disputado no Koshien Stadium, que é considerado um templo do beisebol. O estádio, que fica na cidade de Osaka, é a casa do Hanshin Tigers, time que disputa a liga profissional do Japão.

Beisebol Universitário


Após se formar no ensino médio, o jovem brasileiro viu mais uma vez a oportunidade de jogar e estudar no Japão, mas agora pela universidade Hakuoh, que ficava na cidade de Oyama.

"Consegui uma bolsa de estudos integral para estudar e jogar na faculdade. Durante meus quatro anos lá, estudei esportes e saúde lá, que seria o equivalente a educação física no Brasil." 

E assim como fez durante o ensino médio, o brasileiro conseguiu o feito de levar sua faculdade para o campeonato nacional mais importante da modalidade. "Foi a primeira vez que nossa universidade conseguiu se qualificar para a competição. Foi uma grande experiência poder ajudar tanto minha escola quanto minha faculdade nas maiores competições do Japão", lembrou.

Lesões e aposentadoria


Uma infeliz normalidade dentro da carreira dos arremessadores do beisebol, são as lesões. Assim como muitos jogadores de sua posição, Thiago sofreu com algumas delas durante sua carreira na universidade.

"Saindo do ensino médio e entrando no meu primeiro ano da faculdade, tive que passar pela cirurgia de Tommy John, que era bem complicada na época. No meu último ano tive mais uma lesão, agora no ombro. Como essa segunda cirurgia teve um procedimento mais complicado, eu acabei perdendo algumas propostas para jogar profissionalmente no Japão e decide voltar para o Brasil"

Carreira como treinador


Mesmo com a possibilidade de ficar no Japão, o brasileiro decidiu voltar para o Brasil, onde poderia compartilhar de toda sua experiência e ajudar muitos atletas a se desenvolver. Com isso, foi contratado para ser o treinador de arremessadores do Centro de Treinamento Yakult.

"Foi uma sensação muito boa poder voltar para o CT. Lembrei da época em que a primeira turma de jogadores chegou e poder ajudar foi algo excelente. E estar dentro do Centro de treinamentos me abriu portas para outras oportunidades no beisebol, principalmente na seleção brasileira. Desde as categorias de base até o adulto, já desempenhei vários papéis, como auxiliar, treinador de arremessadores e treinador principal"


Como treinador, Thiago vem fazendo sua história em diversas categorias da seleção brasileira. Créditos: Divulgação

Contato com a MLB

Hoje, Thiago é o olheiro oficial da Major League Baseball no Brasil. Ele lembrou dos primeiros contatos que teve com a liga."Eles mandavam dois treinadores por ano para o CT Yakult, para ajudar na parte técnica. Felizmente eles viram o potencial que o Brasil tem e com isso começaram a fazer investimentos maiores", lembrou.

"Há uns 8 anos, eles lançaram o Elite Camp. Junto com os 40 melhores jogadores do Brasil e da América do Sul, eles traziam vários nomes famosos dentro do beisebol, além dos dez melhores treinadores do Brasil para ajudar na coordenação"

O Elite Camp era realizado em várias partes do mundo e foi assim que Caldeira teve seu contato aprofundado com a MLB, o brasileiro começou a ser chamado para integrar a equipe de treinadores do camp. E, em 2016, ele recebeu o convite oficial para ser o representante da Major League no Brasil.

Thiago, durante a realização do MLB Camp 2018. Créditos: Divulgação
"Eles me deram a oportunidade de ser o scout aqui no Brasil. Preciso mandar todas as informações dos jogadores brasileiros para a liga e existe todo um sistema para que todos os times recebam as informações. Quando eles têm interesse em algum jogador, eles podem olhar todo o registro que criamos para os jovens"
Quando a CBBS (Confederação Brasileira de Beisebol e Softbol) e a MLB firmaram a parceria com o CT Yakult, o trabalho só aumentou. Segundo Thiago, essa junção o levou para mais campeonatos, onde buscam os melhores jogadores do Brasil para primeiro integrar a academia e depois ter sua oportunidade no beisebol profissional.

"Eu faço os scouts somente para a Major League, seguindo alguns padrões de testes e atividades que temos que seguir. Mas quando uma equipe tem interesse em um jogador, eles mandam algum scout para o Brasil. onde ele pode realizar qualquer outro teste, entrevista ou exame que o jogador precise passar"

Futuro do esporte no Brasil

O treinador acredita que difundir a modalidade é uma das dificuldades do esporte atualmente.

“Alguns esportes são mais conhecidos e por isso acabam sendo mais praticados que o beisebol, como futebol, basquete entre outros. Precisamos apresentar mais o esporte para as pessoas, principalmente as crianças”


Em 2013, Thiago voltou para o Japão, mas agora como treinador. Créditos: Divulgação
Caldeira falou sobre outra parceria entre a CBBS e a Major League Baseball: o projeto Play Ball. A modalidade era apresentada em diversas escolas ao redor do Brasil, visando aumentar os fãs e chamar novos atletas a conhecer o beisebol.

“Além de apresentar o esporte para mais pessoas, existe uma grande preocupação em capacitar cada vez mais os nossos treinadores e professores. A própria Major League fez diversos camps voltados totalmente para essa capacitação profissional. Esses treinadores dos clubes e projetos repassaram esse conhecimento pelo Brasil, ainda que em pequena escala”

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