Análise Penei Sewell

By Matheus Ornellas - 13:24



Nos últimos anos o termo “Talento Geracional” vem sendo utilizado cada vez mais ampla e indisciplinadamente no draft da NFL. Todo ano vemos 2 ou 3 jogadores que são tachados como futuros All-stars e como seleções seguras para quem os draftar. Isso acabou banalizando o termo de uma maneira que as pessoas não levam mais tanto a sério quando se classifica um jogador como sendo especial, único.

Outra tendência que vemos acontecendo na liga é a centralização do jogo aéreo como sendo o ponto focal dos times. Posições que auxiliam o ataque pelo ar (Wide Receivers, Offensive Linemen) e que o impedem na defesa (Pass Rushers, Cornerbacks) tendem a ser as mais beneficiadas, principalmente na hora de montar um elenco. Dos 8 jogadores não-quarterbacks mais bem pagos na liga, 4 são defensive linemen, enquanto outros 4 se dividem entre WRs, CBs e OLs.

Dito isso, os fãs mais fanáticos por college football já devem ter ouvido falar o nome de Penei Sewell. Durante os últimos 3 anos ele vem sendo noticiado como o próximo grande Offensive Tackle da NFL, uma posição que vem ganhando muita evidência nos últimos anos.  Graças a essa superexposição, Sewell é um dos jogadores mais badalados e comentados dos últimos drafts, muito pelo respeito que ele ganhou durante seus 2 anos na Universidade de Oregon.

De origem samoana, Sewell se mudou ainda jovem para o estado de Utah para seguir carreira como jogador de futebol americano. Lá, ele rapidamente se tornou um dos melhores prospectos da sua posição, sendo nomeado pro Army All-American Bowl (Jogo entre os melhores jogadores do ensino médio nos estados unidos, como um jogo das estrelas) como um OL de 4 estrelas (mensuração feita para rankear os prospectos vindos do High School, a escala é de no máximo 5 estrelas). Recrutado por gigantes do college como Alabama, Notre Dame e Oklahoma, Sewell decidiu jogar por Oregon e  seu Head Coach Mario Cristobal, que possui um extenso passado como coordenador de linhas ofensivas.

Como freshman, Sewell impressionou sendo nomeado titular na posição de Left Tackle logo de cara, começando 7 de possíveis 13 jogos e sendo nomeado Freshman All-American, mostrando tremendo potencial. Como sophmore, Sewell demonstrou todo esse potencial em campo, rapidamente se tornando o melhor OL do país. Titular em 13 das 14 partidas, Sewell se tornou o primeiro jogador dos Ducks a levar o Outland Trophy, dado ao melhor jogador de linha ofensiva da temporada, além de se tornar o 3° jogador da universidade a ser nomeado All-American de maneira unânime (LaMichael James em 2010 e Marcus Mariota em 2014).

Mas seria mesmo todo esse hype em cima do polinésio justificado? Vamos deixar a tape responder:

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Ficha técnica: 

Penei Sewell

20 anos

Natural de Malaeimi, Samoa Americana.

Altura: 1,98m 

Peso: 147kgs


Premiações: Troféu Outland(2019), Troféu Morris (2019), Seleção unânime do primeiro time All-American (2019), Seleção unânime do primeiro time All-Pac-12 (2019), Co-Jogador ofensivo do ano da Pac-12 (2019), Freshman All-American (2018), Jogador Polinésio do ano (2019)

Jogos assistidos: vs Cal (2019), vs Utah (2019 Pac-12 Championship Game), vs Wisconsin (2019 Rose Bowl), vs Auburn (2019), vs Washington (2019).

Pontos positivos

De cara, Sewell se mostra um monstro em campo. Pelo seu tamanho e peso, o samoano se mostra extremamente atlético, com velocidade e explosões ímpares para a posição. Naturalmente, se demonstra muito ágil, se movendo com fluidez e assertividade que, junto com a sua fisicalidade, se tornam instrumentos letais.

No jogo terrestre, Penei é, provavelmente, o prospecto mais preparado a entrar na NFL desde Quenton Nelson. Fazendo-se valer do esquema Zone Block de Oregon, que explorava quase sempre seu atleticismo, Sewell se mostrou inteligente na leitura de bloqueios e no contato ao se encontrar com defensores.

CLIPE OREGON VS WASHINGTON (3:31) 

CLIPE ALL-22 FILM ROOM (03:22)

No clipe acima, o Left Tackle se mostra extremamente inteligente e rápido nas decisões. A jogada, um wide zone para esquerda, é desenhada para que a corrida seja por fora do Edge (número 91), porém o defensor se antecipa e muda seu posicionamento para que Sewell não alcance seu lado externo para fazer um reach block. Com muita rapidez, Penei vai de encontro ao oponente e, ao notar a movimentação do mesmo, utiliza-se de sua mão interna com muita violência para mudar a direção do jogador de Auburn, gerando um enorme espaço para o Running Back passar. São poucos os jogadores na NFL que conseguem gerar uma jogada dessas, e nisso o antigo Oregon Duck se mostra elite.

Ainda que não seja o maior lineman do draft, Sewell se mantém muito bem contra DLs pesados, os chamados inside rushers. Com muito poder ao sair da sua stance, o primeiro contato é quase sempre violento e poderoso, gerando alguma vantagem de posicionamento de mãos e de base.

CLIPE OREGON VS WASHINGTON (23:27)

CLIPE OREGON VS AUBURN (02:04)

Ainda olhando para o lado do jogo terrestre, Sewell tem ótima movimentação lateral em jogadas de pull e trap, se movendo com rapidez e com naturalidade ao entrar em contato com defensores em movimento. 

CLIPE OREGON VS UTAH (10:27)

CLIPE OREGON VS WASHINGTON (05:28)

A movimentação do camisa 58 ao longo da linha ofensiva impressiona por 2 motivos: sua capacidade de se deslocar lateralmente com muita rapidez enquanto mantém os olhos para frente e o manuseio de suas mãos, deslocando os defensores ao mesmo tempo que chega ao seu destino com um posicionamento perfeito.

Falando agora do jogo aéreo, Sewell se mostra muito sólido, sempre com bons posicionamentos e com mãos ativas, o que dificulta muito a vida dos defensores. Seu primeiro passo é sempre muito rápido e o jogador “chuta” com muita naturalidade (Chutar é o ato de se deslocar para trás utilizando a perna de fora como arranque). Sua agilidade e seu atleticismo, já muito comentados anteriormente, auxiliam para que o OL nunca esteja fora de posição, sempre na frente do seu defensor e com muita facilidade em espelhar o adversário. 


Apesar disso, sua maior vantagem é em jogadas desenhadas para que Sewell utilize de sua velocidade para bloquear defensores menores e mais fracos. O esquema ofensivo de Oregon abusava desse tipo de jogada, como screens e RPO’s, que frequentemente geraram grandes ganhos. A característica que mais impressiona é a utilização das mãos no primeiro contato com o linemen à sua frente, gerando muito espaço para deslocamento. Em campo aberto, o polinésio raramente perde um bloqueio, com contatos sempre muito violentos e assertivos em DBs e LBs.

CLIPE OREGON VS WASHINGTON (29:09)

CLIPE ALL 22 FILM SESSION (04:09) 

CLIPE OREGON VS CAL (10:51)

CLIPE OREGON VS CAL (39:14)


Pontos negativos

Não são muitas as falhas encontradas no jogo do gigante de 1,98m, porém as que foram encontradas são pontos a serem observados com cuidado, pelo impacto que pode ter em seu jogo na liga.

Durante boa parte de sua carreira, o tackle se mostrou muito sólido de modo geral no jogo aéreo, porém sua técnica de bloqueio e de contato não são extremamente refinados. Contra defensores mais técnicos, Sewell se mostrou vulnerável, principalmente pela sua base, que se mostrou muito desbalanceada. Característica comum de OLs mais jovens, o All-American costuma levantar muito o seu tronco e sua base e se deixar vulnerável a jogadores que tenham expertise em contra atacar sua “afobação”. Em ofensivas mais voltadas para a velocidade, era comum ver o jogador um passo atrás, dependendo muito mais de sua fisicalidade do que da técnica. 

CLIPE OREGON VS UTAH (03:55)

CLIPE ALL 22 FILM ROOM (17:19)

Alguns exemplos comuns foram vistos contra linhas defensivas mais experientes, como Auburn e Utah, que conseguiram explorar as falhas no jogo de Sewell. Contra pass rushers elite, Sewell pode sofrer na transição para os profissionais, principalmente em uma NFL cada vez mais centrada em passes.

Ao analisarmos a tape, outro ponto que não é necessariamente negativo, mas que pode incomodar alguns olheiros é a falta de “finalizações” de bloqueios. Em diversas ocasiões, Sewell se posiciona bem contra o defensor, chega muitas vezes a até tirá-lo de sua base, porém não vemos muitos knockdowns, onde o adversário acaba no chão. Em casos mais extremos, foi visto até mesmo jogadas onde o bloqueio inicial é feito de maneira correta, mas o bloqueio não é finalizado e o Defensive Lineman se desvincula para fazer um tackle. Essa fisicalidade para terminar um bloqueio e para tirar o oponente da jogada é essencial na NFL, onde o ritmo é mais rápido e todos são mais atléticos, e um erro pode custar uma série de jogadas. 

CLIPE OREGON VS CAL (40:14)

CLIPE OREGON VS WISCONSIN (1:17)

CLIPE ALL 22 (10:42)

O clipe acima não mostra necessariamente um bloqueio ruim, o bloqueio foi realizado, mas falta determinação de Sewell para terminar o bloqueio, parar no meio da jogada nunca é um bom sinal.

Conclusão

Após analisar a tape, é fácil de entender por que Penei Sewell é considerado um prospecto excelente. Os traços positivos são muito mais impressionantes do que os negativos e mesmo o que não pareceu tão bom, como a técnica de bloqueios em pass protection, se mostrou extremamente evoluída através dos jogos. Sua stance no final da temporada, em jogos contra Utah e Wisconsin, era muito mais sólida e mais refinada do que no primeiro jogo da temporada contra Auburn.

Falando um pouco de esquema, Sewell se encaixaria melhor em um ataque que explorasse a velocidade e movimentação que o grandalhão tem. Times que se baseiam em corridas por fora com bloqueios em zona com um jogo aéreo rápido e dinâmico seriam essenciais em extrair o máximo do seu potencial. Cleveland, San Francisco, LA Rams e Green Bay são alguns dos principais exemplos de ataques que Penei se encaixaria como uma luva logo de cara. Coordenadores que exploram mais o jogo aéreo de forma vertical e dependem muito de passes em shotgun com um dropback mais longo (Buffalo é o principal exemplo) podem ter problemas ao inserirem o Tackle como titular, pela sua técnica irregular.

Levando todos os fatores em consideração, Sewell seria melhor aproveitado jogando de Guard, onde demonstraria toda sua habilidade e força no jogo terrestre e ficaria menos exposto na proteção ao passe. O time que o draftar deve ter essas opções em mente, pensando em otimizar sua função em campo. Jogadores como Quenton Nelson e Brandon Scherff mostraram que a transição de Tackle para guard não é impossível e pode trazer grandes resultados para o jogador e para o time (Nelson foi All-Pro em todas as suas temporadas na liga, enquanto Scherff tem 4 Pro-Bowls no currículo). Num mundo ideal, Sewell seria colocado como Guard e seria presença constante em seleções de all-star e all-pro na NFL.

Como estamos longe de estar em um mundo ideal, a alternativa mais plausível de acontecer é que o polinésio seja uma escolha de draft alta em um time que tem grande necessidade de um upgrade em seu front ofensivo, especialmente na posição de tackle. As equipes devem apostar no potencial do jovem e no espaço para crescimento e ele provavelmente será colocado pelas pontas da linha ofensiva logo cedo em sua carreira, o que pode atrasar seu desenvolvimento. Para o time que o fizer, a estratégia deveria ser similar a realizada por Miami com Laremy Tunsil, quando o mesmo jogou a temporada de rookie em 2017 como Left Guard, aprendendo as nuances do jogo profissional até ser deslocado para Tackle no ano seguinte.

Sewell é grande, forte, atlético e inteligente, e estes são os principais atributos que você procura num Offensive Lineman de 1ª rodada. Como benefício, no momento do draft o Tackle de Oregon tem apenas 20 anos, com muito espaço para melhorias e aprimoramento em seu jogo. Acredito que daqui alguns anos, seu nome estará sendo mencionado como um dos melhores de sua posição na liga, independente do time que o selecionar.

RANGE: Escolha de top-10

FIT IDEAL: Los Angeles Rams, San Francisco, Cleveland Browns

POSSÍVEIS DESTINOS: Cincinnati (#5), Carolina(#8), Atlanta (#4), Miami (#6), Dallas (#10)

TETO: All-Pro

PISO: Titular médio

COMPARAÇÃO NA NFL: La’el Collins e Taylor Lewan


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